Era uma vez uma princesa que não queria brincar. Ela se chamava Lise Lotta.  Como quase todas as princesas ela tinha cabelos sedosos e olhos carinhosos.

Ela tinha um quarto cheio de brinquedos, lá havia os mais bonitos móveis para bonecas, carrinho de bonecas, todos os tipos de bichinhos de pano, lojinha com passinhas, açúcar, bombons coloridos nas prateleiras, livros e muitas bonecas. E apesar disso, ela não queria brincar.

Sua mãe, a Rainha, ficava sempre muito triste quando via Lise Lotta tão desanimada dentro de seu quarto tão lindo.

“Lise Lotta” dizia a Rainha, “você não quer brincar?”

“Não, isso não me traz nenhuma alegria.”

“Talvez você deseje uma nova boneca?”, falou a Rainha.

“Não , não”, dizia Lise Lotta, “eu não gosto de bonecas”.

A Rainha pensou que Lise Lotta poderia estar doente e chamou o médico, que veio rápido para dar a ela um novo remédio. Mas não, nada ajudava.

Lise Lotta se esforçava para agradar a sua mãe. Ela pegava uma boneca que tinha um vestido azul e trocava por um vermelho. Ela tinha muitos vestidinhos a sua escolha, mas quando ela trocava a roupa da boneca, olhava para ela e dizia:

“Você está tão feia quanto antes”. Então jogava a boneca no chão e começava a chorar.

A princesa morava em um lindo castelo junto ao seu pai o Rei, sua mãe a Rainha, 100 damas de companhia e 100 amos de companhia. Não havia nenhuma criança no palácio, pois Lise Lotta não tinha irmãos, e a Rainha pensava que não cabia a uma pequena princesa brincar com outras crianças que não fossem princesas ou príncipes. E como Lise Lotta nunca havia visto outras crianças, ela pensava que só existia no mundo gente grande. E ela era a única pequena. Às vezes uma dama de companhia tentava brincar com Lise Lotta, mas isto Lise Lotta achava muito enfadonho, então ela se sentava em cadeira e se balançava.

O palácio ficava no meio de um parque enorme e ao redor do parque havia um muro muito alto. Era coberto por um roseiral e não se podia olhar o que havia fora.

Claro que havia no muro um esplendoroso portal com grandes portões de ferro, que era aberto e fechado quando o Rei saia com sua carruagem dourada puxada por seis cavalos brancos. No portal, estavam sempre os soldados fazendo guarda ao castelo, por isso Lise Lotta não ia até lá, pois era um pouco tímida.

Mas, bem atrás do parque, a princesa havia descoberto no muro uma pequena porta de ferro. Lá não havia nenhum soldado fazendo guarda, pois a porta estava chaveada e a chave estava pendurada em um gancho ali do lado, com muita freqüência a princesa ficava lá na pequena porta de ferro, olhando para fora.

Certo dia aconteceu algo notável!

A princesa estava lá na porta de ferro, quando viu lá fora uma pessoa que estava em pé, que não era nem um pouco maior do que ela mesma. Era simplesmente uma pequena menina que lá estava, do mesmo tamanho da princesa. Claro, não vestia um vestido de seda como Lise Lotta, mas sim um vestido de xadrez de algodão.

Lise Lotta estava muito surpresa.

“Porque você é tão pequena?” perguntou ela.

“Ora, eu não sou menor do que você! Respondeu a menina, que se chamava Maja.

“Sim, isto eu vejo” disse Lise Lotta, “mas eu pensava que só eu era pequena”.

“Eu acho que nós temos o mesmo tamanho” disse Maja, você precisaria ver meu irmão que está em casa, que tem só este tamanho”.

Maja mostrou com as duas mãos, quão pequeno ele era. Lise Lotta se alegrou demais em saber que existia alguém do seu tamanho, ou melhor, que havia crianças menores que ela.

“Abra a porta para mim, pois poderemos então brincar” falou Maja.

“Não, não” disse Lise Lotta “brincar é o que tem de mais terrível que eu conheço. Você brinca?”

“Isto você pode acreditar! Eu brinco sempre, sempre e sempre” falou Maja “e com esta boneca aqui!” ela levantou algo que se parecia com um pedaço de madeira com um pano ao redor. Era uma boneca de madeira torneada. Há muito tempo atrás ela teve um rostinho, mas agora o nariz estava quebrado, os olhos, Maja havia pintado novamente.

Lise Lotta até então não havia visto uma destas bonecas. “Ela se chama Pia” esclareceu Maja, “e ela é tão querida!”

Talvez, pensou Lise Lotta, fosse melhor brincar com Pia do que com outras bonecas. Que importava, o principal era que ela estava em companhia de alguém, que não era maior que ela.

Lise Lotta ficou na ponta dos pés,pegou a chave do gancho e destrancou o portão para Maja.

Neste lugar do parque crescia grandes pés de sabugueiro. As meninas estavam debaixo de um caramanchão onde ninguém as podia ver.

“Que bom” disse Maja, “vamos brincar que nós moramos aqui, que eu sou a mamãe,você é a criada e Pia é minha filha”.

“Aha” disse Lise Lotta.

“Mas é claro que sendo a criada, você não será chamada de Lise Lotta” disse Maja. “Eu te chamarei simplesmente de Lotta.”

“Aha” disse Lotta.

Então elas começaram a brincar. No começo foi um pouco difícil porque Lise Lotta não sabia o que uma criada deveria fazer, ou como se cuidava de uma criança. Mesmo assim ela aprendeu.

“Talvez seja muito engraçado brincar” pensou a princesa. Depois de um tempo a “dona da casa” quis ir à cidade fazer compras.

“Lotta, você agra varre o chão” disse ela e parecia bem enérgica. “E não se esqueça: Pia precisa comer seu mingau ao meio dia, e troque a s fraldas quando ela estiver molhada”

“isso eu posso fazer” disse Lise Lotta.

“Não, isto você não deve dizer”, disse Maja “você deve dizer: sim, minha senhora”.

“Sim minha senhora”, disse Lise Lotta.

E assim sua senhora seguiu seu caminho e Lise Lotta varreu o chão com um galho que elas quebrou de um arbusto.

Logo sua senhora voltou para casa com açúcar, espinafre e um delicado pedaço de vitela. Lise Lotta bem viu que o açúcar era areia,o espinafre eram folhas de sabugueiro e a carne de vitela era pedaço de madeira . Mas tudo ia tão bem, que parecia tudo de verdade e traziam tanta alegria! As bochechas da princesa ficaram coradas e seus olhos brilhavam.

Então a “Senhora” e Lise fizeram queijo. Depois  colocaram amoras no lencinho da princesa e espremeram, o suco da amora escorria sobre o vestido de seda cor- de-rosa de Lise e ela achava tudo muito divertido.

Mas, lá em cima no palácio, havia uma grande agitação. Onde esta a princesa!? As damas e os amos de companhia corriam procurando Lise. Por fim a rainha encontrou Lise no fundo do parque, debaixo do caramanchão.

“Querida filha”. Disse a rainha “querida Lise assim não dá!”

Então Lise começou a chorar.

“Ah”, mamãe, vá embora! Nós estamos brincando” disse ela.

A rainha olhou em volta e viu o queijo, o espinafre, a vitela, Pia e todo o resto. Imaginem vocês, que a rainha percebeu que havia sido Maja que havia trazido a alegria do brincar para Lise e por isso Lise estava com as bochechas coradas e parecia restabelecida. Apesar de tudo, a rainhas mostrou compreensiva e sugeriu que Maja viesse brincar todos os dias com a princesa.

Adivinhe se as meninas se alegraram!! Elas se deram as mãos e dançaram.

“Mas mamãe, por que você nunca me deu uma boneca como Pia, para que eu também pudesse brincar? Perguntou Lise.

A rainha só pode responder que uma boneca destas ela nunca havia visto .

Agora Lise desejava de todo o modo ter uma boneca como Pia. A rainha perguntou se Maja não gostaria de trocar por uma das bonecas de Lise.

Ao conhecer as bonecas de Lise, os olhos de Maja logo ficaram tão redondos como bolinhas de gude, de tão surpresa que ela ficou quando entrou no quarto de brinquedos da princesa. Ela achava que estava numa loja de brinquedos.

“Oh, quantas bonecas!” disse Maja

“Querida Maja, você pode escolher qual você quiser desde que me dê a Pia” pediu a princesa.

Maja olhou para Pia e então para todas as delicadas bonecas dorminhocas.

“Ah, então” disse ela, “um lugar tão bom quanto este ela não terá lá em casa, lá ela dorme  em uma caixa de sapatos. “Pode ficar com ela.”

“Obrigada querida Maja. Você poderá visitá-la todos os dias.” Disse Lise.

“Claro”, disse Maja.

Maja escolheu uma linda boneca para si, e foi para casa mostrar para sua mãe. Estava tão feliz que esqueceu de se despedir.

“Minha doçura, meu pedacinho de ouro” dizia Lise Lotta para Pia e escolheu para ela o carrinho de bonecas mais bonito, com lençol e coberta de seda. Lá deitada, estava Pia, com seu narizinho quebrado, com seus olhinhos pintados olhava para a coberta como se não acreditasse que isto tudo era de verdade.

Fonte: conto de Astrid Lindgren, traduzido por Silvia Jensen.

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