Era uma vez um homem que tinha quatro filhos. Quando os filhos já estavam crescidos, em plena adolescência, fortes e sadios, o espírito do pai começou a ficar cheio de inquietações e incertezas.

Notou que cada filho tinha um jeito e um temperamento radicalmente diferente dos outros. O mais velho era caladão, sem ânimo para trabalhar, sempre tímido e preguiçoso para as coisas mais belas da vida. O segundo era cheio de manias, teimoso e quando se agarrava a uma idéia, não a deixava. O terceiro era inteligente, hábil e trabalhador. Esforçava-se por prosperar na vida. O quarto era violento, impulsivo e desonesto; queria tudo para si e nada para os outros.

Impressionado com aquela inexplicável diferença de temperamentos entre seus filhos o homem foi procurar um sábio eremita e consultou-o:

– Tenho quatro filhos, senhor. Foram por mim educados da mesma forma, com exemplos idênticos e orientados por iguais ensinamentos. Eu e minha esposa tratamos os nossos filhos com bondade e mostrando tudo que pode ser bom num ser humano. E agora que estão crescidos, prontos para a vida, o que vejo? Cada um deles tem um temperamento, um caráter, um gênio. Um é preguiçoso e caladão. Não gosta de trabalhar. Outro é teimoso e cheio de manias. O terceiro deseja progredir, prosperar, auxiliar seus amigos. E o último é violento e desonesto. Como se explica isso, sábio eremita, como se explica essa diferença entre pessoas que foram criadas do mesmo jeito, beberam a mesma água, comeram a mesma comida, viveram sob o mesmo teto e ouviram as mesmas histórias e conselhos?

O sábio levou o deprimido pai a uma sala ampla de paredes cor de barro. Havia nessa sala apenas uma mesa quadrada de ferro muito simples. Sobre a mesa estavam colocadas quatro bolas escuras. O sábio eremita colocou a mão no ombro do homem e assim falou com voz tranquila:

– Meu amigo, está vendo aquelas quatro bolas? Repare bem. Observe com atenção. São rigorosamente iguais na forma, no tamanho e na cor. Tem alguma dúvida? Todas as quatro tem o mesmo peso. As quatro bolas parecem perfeitamente iguais. Não acha?

O velho pai, depois de segurar as quatro bolas com as mãos, concordou:

– Sim, tudo é certo! Poderia jurar que estas quatro bolas são iguais.

E o sábio continuou:

– Pois bem as aparências enganam. Enganam até os mais atentos e os mais cuidadosos. Atire uma a uma, com a mesma força, com o mesmo impulso, as quatro bolas de encontro aquela parede.

Sem entender direito o pai atirou a primeira bola. Esta, com o choque, se achatou, se esborrachou e caiu sem forma ao pé da parede. O homem pegou a segunda bola e arremessou-a também. Exatamente como fizera com a primeira. A segunda bola, ao chocar-se com a parede, ficou pregada no lugar em que havia batido e dali não se desprendeu mais. Com a terceira bola aconteceu diferente. Ao ser lançada, como as anteriores, bateu na parede e saltou de novo, perfeita, como se fosse movida por mola. A quarta e última bola, atirada à parede, deu um estalo forte e quebrou-se em vários pedaços que saltaram para todos os lados. Um desses pedaços poderia até ferir quem estivesse ao seu alcance. O velho pai continuava sem entender nada e o sábio explicou:

– Essas quatro bolas são precisamente como os filhos do mesmo pai. Parecem iguais, deviam ser idênticos, mas cada um deles tem um caráter, um temperamento. A primeira bola, que bateu na parede e caiu como se perdesse a forma, é o filho inútil e preguiçoso. A segunda bola que ficou agarrada à parede, representa o filho teimoso, cabeçudo, que não atende a nada e não quer obedecer a ninguém. A terceira bola é o filho prestativo e bom que salta radiante para voltar às mãos do pai e servir de novo. E a quarta e última bola é a imagem do violento, impulsivo e agressivo. As pessoas são diferentes mesmo sendo criadas do mesmo jeito e no mesmo lugar. Assim é a vida. E essa verdade deve ser a que fica em seu coração.

O velho pai compreendeu. E assim acabou a história.

* Conto popular africano. Adaptação de Augusto Pessoa.

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