O termo Criação com Apego (Attachment Parenting, em inglês) começou a ser mais difundido pelo reconhecido pediatra William Sears. Baseia-se na ideia do fortalecimento do vínculo emocional entre os pais e o bebê, a fim de que seja mais seguro e confie mais em si mesmo na fase adulta.

Essa criação está baseada no vínculo, no respeito e na atenção contínua, especialmente, nos primeiros anos de vida, mas com vistas a obter resultados positivos na fase adulta. Nesse sentido, para isso, se leva em consideração desde a forma como trazemos o bebê ao mundo (apoio ao parto o mais natural possível), como também seriam determinantes o aleitamento materno, a cama compartilhada e o uso do sling.

E quando nós mulheres enfrentamos algum percalço e, no lugar de realizar um parto natural, como o desejado, se vê obrigada a fazer uma cesariana? Esse foi o meu caso. E quando não somos capazes de amamentar nosso filho no peito ou precisamos complementar com o leite artificial? Também foi o meu caso. Seguindo a bandeira a favor do aleitamento materno, que defendo porque sou consciente do valioso que é para o sistema imunológico do bebê, tive sentimentos de culpa desnecessários por isso. Tive que dar a volta por cima. E não foi fácil.

Nós escolhemos a Criação com Apego para criar nossa filha. Mas, já no início do caminho, fomos obrigados a reorganizar nossa mente e entender que nenhuma teoria é 100% verdadeira e não consegue dar conta de todas exceções que podem ocorrer. Ainda assim, é esta a filosofia de vida que melhores recursos oferecem para a criação de nossa filha, tal como pretendemos criá-la.

Fato é que nos tornamos bem críticos a tudo, pois vemos que não é sadio seguir uma teoria e sentir-se culpado porque algo não vá como o esperado. A vida não é previsível, e os obstáculos surgem a todo tempo. Logo, é preciso saber adaptar o que mais nos parece relevante a nosso estilo de vida.

Os oito princípios (ou os 8 B) da Criação com Apego

1. Manter os laços afetivos desde o nascimento (Birth bonding)

Esta filosofia de criação defende os partos mais naturais e conscientes. Além disse, propõe que se produza o primeiro vínculo da mãe com o bebê mediante o contato pele a pele nada mais ao nascer, pois são momentos de máxima sensibilidade para ambos.

2. Aleitamento Materno (Breastfeeding)

Junto à OMS, a criação com apego defende que o aleitamento materno como alimento único e exclusivo que tome o bebê durante seus seis primeiros meses de vida, devendo ser combinada com os demais alimentos até que a mãe e o filho desejem abandoná-lo. O processo de deixar de dar o peito não deve ser traumático, mas sim baseado no respeito.

A amamentação satisfaz as necessidades nutricionais e emocionais do bebê, melhor que qualquer outro método de alimentação. É um componente nutricional, imunológico e emocional muito importante. Além disso, o momento da amamentação é extremamente importante para estabelecer o vínculo com os filhos.

3. Dormir próximo ao bebê (Beding close to baby)

Na hora de dormir, esse estilo de criação defende o co-leito (ou co-sleeper) como prática, pois traz tranquilidade e segurança que necessita para ter um bom sonho. Ajuda a transformar a sensação de angústia do pequeno durante a noite em um sentimento mais agradável.

Também é válido porque melhora o descanso da mãe já que, amamentando no peito ou não, facilita o pronto atendimento do bebê durante a noite. Tanto se pode compartir a cama com o bebê ou usar o berço que se acopla à cama. Nós escolhemos essa segunda opção.

4. Manter o contato corporal (Babywearing)

Além do contato pele a pele ao nascer, o bebê deve estar em contato com sua mãe ou com seu pai em qualquer situação diária para manter uma relação de proximidade. Portanto, os beijos, abraços e as carícias são recomendáveis, bem como o uso do sling, pois o pequeno se sente protegido em qualquer entorno.

5. Confiança no valor de seu choro como linguagem (Belief in the language value of your baby’s cry)

O choro é o principal meio de comunicação do bebê com o mundo. O usa para tudo: se sente incomodado, inseguro, porque tem fome, sonho, etc. Os pais devem estar atentos para aprender a interpretar o pranto do beber e, assim, poder satisfazer suas necessidades.

Essa ideia de que se deve deixar chorar até cansar (estilo Super Nany) apenas fará com que o bebê deixe de se comunicar com você, pois sentirá que não é atendido. Além disso, não atender o bebê quando nos necessita, gera alto nível de estresse, causando um desequilíbrio químico no cérebro que pode colocar em risco sua saúde física e emocional. Claro, isso se verá a longo prazo.

6. Ser flexível na hora de inculcar hábitos na criança (Beware of baby trainers)

Os pais devem ser flexíveis com as necessidades do bebê e devem ensiná-los que eles também devem sê-lo. Por exemplo, não é recomendável que forcemos o bebê a comer ou a dormir quando não tenham vontade, mas devemos ensiná-los a comer e a dormir em qualquer lugar.

7. Manter o equilíbrio (Balance)

Na hora de criar nossos filhos, devemos ter um equilíbrio. Na hora de estabelecer disciplina, não ser nem excessivamente permissivo, nem muito estrito. Nesse caso, é importante a aplicação da Disciplina Positiva, baseada na empatia, no respeito e no amor, fortalecendo a conexão entre pais e filhos. Fica para trás o uso de recursos violentos e de humilhação, tais como o grito e os castigos físico e/ou verbal, que podem causar problemas emocionais e de condutas na criança.

8. Os pais conjuntamente são responsáveis pelos cuidados do bebê (Both)

O pai não é um ajudante da mãe. É um agente e juntos devem criar um ambiente de segurança e confiança entre eles e o bebê. Toda a relação deve ser estabelecida no respeito mútuo, na empatia e no companheirismo. Ambos devem buscar viver em harmonia e transmitir ao filho valores positivos que o ajude a ser um ser autônomo e independente.

Algumas observações importantes

A conclusão a que chego é que sempre devemos ser críticos diante de filosofias que chegam como solução a todos os problemas anteriores. Por exemplo, a Criação com Apego se levada à ferro e fogo, pode não ser adequada à muitas dinâmicas familiares, posto que tem em conta um contexto idílico, tal como um ambiente familiar harmônico e afetivo. No entanto, sabemos que, atualmente, há muitas famílias desestruturadas, com pais separados, mulheres ou homens viúvos. Também há famílias de pais homossexuais. Enfim, não há manual que dê conta. Cada criança é um mundo e, afinal, é ela que marca o ritmo. Cada um deve adaptar da melhor forma a filosofia, mas sem estresse ou culpas porque algo não lhe saia como recomendado.

Acredito que o que nos fez escolher a criação com apego é encontrar recursos para fortalecer o vínculo com nossa filha, por querer ser pais que buscam conhecer a natureza de nossa filha para atender com eficiência suas necessidades. Também é imprescindível, para nós, poder ter com ela uma relação de confiança e de respeito mutuo. Nesse sentido, a aplicação da Disciplina Positiva pode ser uma ótima alternativa à uma educação permissiva ou à uma educação autoritária. Poder ajudar nossa filha a reconhecer suas emoções e como melhor administrá-las para resolver da melhor forma os problemas que enfrente, bem como ver em nós, seus cuidadores, pessoas em quem confiar, parece-me motivos suficientes para ter feito a escolha.

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