Muitas vezes, no pulsar caótico da vida cotidiana, acabamos por tentar anular as ações desbravadoras (e muitas vezes ensurdecedoras) das crianças colocando-as em frente às telas dos smartphones/computadores/tablets/videogames, e trocamos toda essa energia vital e pueril por alguns momentos de silêncio e calmaria em casa. Entretanto, esse ato aparentemente inofensivo esconde por detrás de seu brilho viciante uma palavra: carência.

Crianças expostas diariamente às telas e por períodos excessivos tornam-se carentes. Carentes de bons estímulos. Carentes de movimentos. O maior problema que as telas causam é justamente o que elas tiram das crianças: seus movimentos. E essa necessidade de vida e de movimento não desaparece quando estão expostas inertes às telas. A necessidade se acumula. Ao final de uma sessão em frente às telas as criancas estão superestimuladas de informações visuais e sonoras e com uma carência excessiva de estímulos sensoriais, motores e afetivos. Por isso, algumas horas DEPOIS da exposição às telas é comum surgirem vários problemas de comportamentos, como baixa tolerância à frustração e ao tédio, ansiedade, impaciência e até tiques motores.

Quando separamos os sentidos das crianças e dividimos seus domínios de exploração, quando desassociamos o seu fazer motor, sensorial e manual do cognitivo estamos desequilibrando todo um sistema que diariamente busca homeostase. Estamos desequilibrando os órgãos e os instrumentos de percepção das crianças. Resta-nos, no entanto, a opção de limitar a exposição e tentar encontrar um caminho do meio na relação criança x tecnologia.

Se você já passou e viveu a experiência de limitar o tempo de tela à sua criança você já deve ter percebido que na guerra contra a tecnologia tendemos a ser devastadoramente engolidos. 1h por dia de exposição é o suficiente para que as crianças ou fiquem o dia esperando por esse momento ou fiquem o resto do dia pedindo por mais tempo de exposição. É uma equação delicada e que precisa ser pensada e ponderada muito bem entre os pais e cuidadores de crianças. Para que o aparente benefício não fique ileso quando os comportamentos de carência começarem a surgir.

* Texto de Lucy Peres, psicóloga clínica infantil (@infanciapositiva)

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